Pesquisa aponta que enquanto mulheres negras vivem, em média, quatro anos a menos que as brancas, a diferença entre homens negros e brancos chega a quase seis anos.
Foto/Reprodução: Freepik
Um levantamento inédito escancara as desigualdades que encurtam a vida de pretos e pardos no Brasil. O estudo, conduzido pelo Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) em parceria com o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG, utilizou dados do Censo e registros de óbitos do Ministério da Saúde para calcular a diferença na expectativa de vida.
A pesquisa determina “negros” como pretos e pardos. A análise abrangeu duas décadas, 2000-2009 e 2010-2019. Devido a falta de qualidade dos dados de óbitos anteriores a 2000, não foi possível ter estimativas para a década de 1990.
Entre 2010 e 2019, a principal causa da diferença na expectativa de vida masculina negra foi atribuída às chamadas “causas externas”, que incluem homicídios e acidentes. Essa categoria respondeu por 46% do diferencial, afetando especialmente jovens entre 15 e 34 anos, que corresponde a juventude e início da idade adulta.
Dados da última edição do Atlas da Violência, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública corroboram o cenário: quase metade (49,2%) dos homicídios registrados em 2022 tiveram como vítimas pessoas entre 15 e 29 anos. Foram 62 mortes violentas de jovens por dia, em média.
“Identificamos que a diferença ao nascer entre negros e brancos é explicada basicamente por dois fatores. O primeiro é mortalidade infantil de 0 a 4 anos, em que o número de óbitos de negros é muito maior. Isso decorre da pobreza, não da cor. É gente que está com o esgoto a céu aberto. É criança subnutrida. Como há maior incidência de pobreza entre negros, a mortalidade não é igual”, afirma Paulo Tafner, diretor-presidente do IMDS.
A vulnerabilidade dos negros no Brasil se manifesta em diferentes frentes. Doenças causadas por má alimentação, ausência de saneamento e, sobretudo, a violência em favelas e regiões urbanas precarizadas são os principais fatores que reduzem a expectativa de vida. Os dados indicam um agravamento na mortalidade precoce de homens negros entre as décadas de 2000-2009 e 2010-2019, sugerindo um aumento da violência contra essa faixa da população ao longo do período
Para mulheres negras, a maior diferença na expectativa de vida, observada entre 2010 e 2019, está relacionada a doenças do sistema circulatório e outras causas preveníveis. Segundo Wania Sant’Anna, historiadora e conselheira do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdade Raciais (Cedra), o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) tem impacto direto na população negra, que depende majoritariamente desse sistema para acesso à saúde.
“Qualquer subfinanciamento do SUS tem impacto de vida ou morte sobre essa população”, pontua. “Não se pode naturalizar que a expectativa de vida tenha a ver com aspectos étnico-raciais, sobretudo em se tratando de causas evitáveis, como violência, má nutrição e atendimento médico”, afirma Wania Sant’Anna.
Dados do Cedra mostram que em 2019 o atendimento de pessoas negras no SUS foi 43% maior que o de pessoas brancas. Ao mesmo tempo, a falta de exames preventivos, como de pressão arterial e de vista, é mais frequente entre os negros.
Apesar do cenário alarmante, dados do Ibre FGV indicam que 9,6 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza entre 2022 e 2023. Esse avanço é atribuído ao aumento do Bolsa Família e à recuperação do mercado de trabalho.
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