Cabula: O crime que o Estado insiste em esquecer

Editorial – Da redação

Em 6 de fevereiro de 2015, a comunidade de Vila Moisés, no bairro do Cabula, em Salvador, foi palco de uma tragédia que resultou na morte de 12 jovens negros, com idades entre 15 e 26 anos. A ação, conduzida por policiais militares das Rondas Especiais (Rondesp), ficou conhecida como a “Chacina do Cabula”. Desde então, o caso permanece sem solução, evidenciando a falha persistente do Estado em responsabilizar os autores desse crime brutal.

Naquela madrugada, relatos indicam que os jovens foram cercados e executados sumariamente, muitos com múltiplos disparos à queima-roupa. Apesar da gravidade dos fatos, os nove policiais envolvidos foram absolvidos em primeira instância ainda em 2015, em uma decisão controversa que gerou indignação e protestos por parte de organizações de direitos humanos e da sociedade civil. Até hoje, não houve condenações, perpetuando a sensação de impunidade e desamparo entre os familiares das vítimas e a comunidade.

A Chacina do Cabula não é um episódio isolado, mas parte de um padrão alarmante de violência policial direcionada contra jovens negros nas periferias urbanas do Brasil. Dados recentes destacam a Bahia como um estado com índices preocupantes de letalidade policial. De acordo com um relatório de 2024 do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 289 jovens com menos de 19 anos foram mortos por forças de segurança na Bahia em 2023, um aumento em relação aos 242 registrados em 2022. Desde 2015, houve um aumento de 313% nas mortes causadas por policiais no estado, tornando a polícia baiana a mais violenta do país.

Esses números são alarmantes e refletem uma tendência de violência policial que afeta predominantemente jovens negros. Estudos indicam que um menino negro tem 4,4 vezes mais chances de ser assassinado do que um menino branco. Essa disparidade racial evidencia a desvalorização das vidas negras pelo Estado e pelo sistema de justiça.

Nós, do Portal Black Fem, uma organização comprometida em defender os direitos da juventude negra por meio da informação e da comunicação como ferramentas de transformação, reafirmamos: é imperativo que a sociedade brasileira reflita sobre as desigualdades raciais que estruturam nossas instituições, especialmente no que diz respeito às práticas de segurança pública.
Em julho de 2024, ao noticiar outro episódio de violência letal contra jovens negros, declaramos: “Cada morte de uma jovem negra no Brasil e no mundo é um golpe profundo no coração das mulheres negras.” Essa dor não é diferente quando um jovem negro é arrancado de sua comunidade de forma brutal e precoce.

O silêncio do Estado diante da Chacina do Cabula é um grito de alerta que ecoa há uma década, clamando por justiça, memória e responsabilização. Não esqueceremos. Não aceitaremos a impunidade como resposta. Porque a vida de cada jovem negro importa — ontem, hoje e sempre.

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