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Lavínia Oliveira é artista e designer, apaixonada por música e tecnologia, busca constantemente por novas perspectivas e abordagens multidisciplinares. Esses universos são evidenciados em suas criações que abraçam a inovação e transmitem uma energia singular, por meio de experiências que mesclam criatividade e os campos da comunicação.
Projetos com pouco investimento, atletas bancando idas a competições e uniformes polêmicos são alguns dos reflexos
Supervisão: I’sis Almeida
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Além do desafio de competir em alto nível, atletas negras enfrentam uma luta constante para serem reconhecidas em esportes além do boxe e do atletismo. Apesar disso, a trajetória das mulheres negras no esporte de alta performance no Brasil é marcada por pioneirismo e resistência. A velocista Melânia Luz, por exemplo, se tornou a primeira mulher negra a integrar uma delegação olímpica brasileira nos Jogos Olímpicos de Verão de 1948, em Londres. Outras figuras, como Wanda dos Santos, no salto em altura e corrida com barreiras, e Aída dos Santos, também no salto em altura, são lembradas por seu impacto significativo no esporte.
(Melânia Luz. Foto: Arquivo Histórico do São Paulo FC/Reprodução)
Durante os Jogos Olímpicos, atletas de destaque se tornam evidentes, seja por quebrar recordes, ganhar medalhas ou elevar o nível de competição. A valorização desses atletas envolve questões sociais, econômicas e culturais, e o boxe, um esporte que exige força e resiliência, exemplifica bem essas questões. Amanda Gomes, pugilista de 23 anos, medalhista de bronze no campeonato brasileiro de 2024 e estudante de Direito, destaca que a presença de mulheres negras em qualquer modalidade esportiva é um ato de resistência.
“Percebo que a maior parte das mulheres afro, latino-americanas, estão sempre presentes em esportes que não tem tanto pessoas brancas. Nos esportes de corrida se percebe muito a presença de mulheres negras, como no atletismo, e também no boxe. Em outras modalidades esportivas, a gente já não vê tanta essa equidade”, pontua Amanda.
Amônio Silva, treinador de boxe, ex-pugilista e ex-técnico da seleção brasileira, conhecido como ‘Mone Nocaute’, confirma que a maioria dos atletas no boxe são negros, pois é um esporte que emerge das periferias. “As oportunidades surgem depois que os atletas começam a mostrar resultados”, completa.
Uma das atletas treinadas por Amônio é Bárbara Santos, conhecida como Binha, boxeadora baiana que treina com ele há mais de 15 anos. Ela conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Boxe de 2023 na categoria até 66 kg feminino e foi uma das representantes brasileiras nas Olimpíadas de Paris 2024, infelizmente nesta ocasião não foi medalhista.
“O apoio realmente é difícil para todos. Quando chegam à seleção, participando de torneios internacionais, recebem o apoio do Comitê Olímpico e da Confederação Brasileira de Boxe. Foi depois de muita dedicação que Bárbara Santos conseguiu uma vaga nas Olimpíadas”, relata.
Para Amanda, o maior desafio é conseguir investimento e patrocínio. “É algo muito difícil de alcançar. Muitos atletas compartilham dessa visão, porque o reconhecimento depende de várias questões. O esporte nem sempre traz o retorno financeiro que um patrocinador espera”, revela.
Em grandes competições, a pugilista muitas vezes precisa arcar com os próprios custos ou contar com a ajuda de amigos e parentes para estar presente e conquistar medalhas. “As grandes competições geralmente acontecem fora do meu estado, e os custos são altos, especialmente com transporte. Costumo organizar rifas solidárias com a ajuda de amigos, familiares e colegas de treino para juntar dinheiro para as passagens. Muitas vezes viajo de ônibus, o que também implica em gastos com alimentação durante o trajeto”, relata Gomes.
A Importância de projetos sociais
Diante desses desafios, projetos sociais oferecem oportunidades para aqueles que, de outra forma, não teriam acesso ao esporte. Esses projetos utilizam a prática esportiva como uma ferramenta para promover inclusão social, desenvolvimento humano e melhoria da qualidade de vida em comunidades, oferecendo não apenas treinamento esportivo, mas também apoio educacional, psicológico e social.
O projeto do treinador Amônio Silva, ativo há mais de 20 anos no bairro de Pernambués, em Salvador, é um exemplo claro. Ele acredita que a chave para a valorização dos atletas está no investimento em projetos sociais nas comunidades. “Já surgiram vários atletas daqui, então é fundamental investir na base e apoiar os projetos sociais. Em toda parte há boxe, mas o que falta é investimento”, alerta. “Com mais recursos para a base, tenho certeza de que teríamos um futuro melhor para todos os atletas”.
Amanda compartilha dessa perspectiva. Ela vê os projetos sociais de base como essenciais para a valorização dos atletas e da prática esportiva. Para ela, abrir novas portas valoriza os atletas e incentiva mais pessoas a se interessarem pelo esporte. “É necessário ter um olhar mais cuidadoso para as jovens atletas negras. Se houvesse mais políticas públicas que incentivassem essa prática esportiva nesse contexto, seria muito positivo, pois as atletas se sentiriam mais valorizadas”, enfatiza.
Reflexos da desvalorização de atletas na abertura das Olimpíadas
A abertura das Olimpíadas de Paris, em 26 de julho, foi marcada por polêmicas nas redes sociais em torno do uniforme oficial dos atletas na cerimônia.
De acordo com a designer de moda e produtora cultural, Tauan Carvalho, a vestimenta não atendeu às expectativas do público brasileiro, que está acostumado com inovações e diversidade no cenário da moda nacional. Além disso, as peças não refletem a criatividade e capacidade do país no design. “As pessoas não se identificaram com aquele uniforme e perceberam que ele não conseguiu expressar a nossa identidade enquanto povo”, explica Tauan.
Os uniformes para as cerimônias de Abertura e Encerramento das Olimpíadas de Paris 2024 foram idealizados pela Riachuelo. Tauan destaca que a empresa se caracteriza pelo fast-fashion, moda rápida em que os produtos são fabricados em grandes quantidades e rapidamente descartados. Segundo ela, se as peças fossem produzidas por empresas menores e mais engajadas, o resultado, assim como a recepção do público, teria sido diferente, proporcionando uma representação mais fiel para os atletas brasileiros que lutam por uma vaga na delegação para a disputa de medalhas.
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