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I'sis Almeida

É jornalista e bacharel interdisciplinar em artes pela UFBA. Criou em 2014 a página Black Fem no Facebook que chegou a reunir mais de 20 mil seguidores. Criadora do Se Organiza, Bonita! - comunidade e podcast sobre organização pessoal para mulheres negras e pessoas periféricas onde atua como consultora e mentora.

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I'sis Almeida

É jornalista e bacharel interdisciplinar em artes pela UFBA. Criou em 2014 a página Black Fem no Facebook que chegou a reunir mais de 20 mil seguidores. Criadora do Se Organiza, Bonita! - comunidade e podcast sobre organização pessoal para mulheres negras e pessoas periféricas onde atua como consultora e mentora.

Educação antirracista no Brasil

Em formação ou já graduadas, educadoras negras buscam instrumentos para atuar no enfrentamento ao racismo através da educação formal e informal

Por: I’sis Almeida

Colagem: I’sis Almeida/Portal Black Fem com adaptação e foto de Katerina Holmes/Pexels

A educação é um direito fundamental e pilar do desenvolvimento social e econômico do Brasil. Hoje, dia 6 de agosto, o país celebra o Dia Nacional dos Profissionais da Educação. A data reforça o compromisso com a qualidade do ensino e a valorização dos profissionais da educação brasileiros, além de promover debates e ações que visam a melhoria contínua do sistema educacional.

Luana Loriano ocupa cargo de Head de Educação no Instituto Das Pretas, um laboratório de Inovação e Tecnologia Social dedicado a co-criar e ativar soluções sociais que potencializam futuros com pessoas negras e territórios periféricos e agora exerce também a função de Diretora/Presidenta na entidade, em entrevista ao Portal Black Fem ela explica que, no Brasil, a educação é uma grande ferramenta de mobilidade social. “É através da educação que pessoas negras, pobres e periféricas conseguem ter acesso à empregabilidade e renda, universidades, acesso à saúde, à própria educação”.

Loriano, que se autodescreve como “apaixonada pelo poder transformador da educação” e que tem como propósito ser agente de mudanças, utiliza sua expertise para capacitar e inspirar pessoas em diferentes modalidades, seja presencial ou virtualmente. Sua trajetória como educadora é marcada pelo enfrentamento ao racismo e pela educação antirracista — uma abordagem pedagógica que visa combater o racismo e promover a equidade racial.

“Como educadora negra, meu papel é promover uma educação que valorize a cultura afro-brasileira e indígena nas escolas ou em qualquer outro equipamento de ensino, seja formal ou informal”, explica a educadora. “Percebi que minha missão é essa: além de educar pessoas no sentido mais amplo da palavra, também levar de forma objetiva uma educação antirracista”, completa.

Luana teve contato com questões étnico-raciais na graduação. Apesar dos avanços no sistema educacional brasileiro, especialmente após os 15 anos da implementação da Lei Nº 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino da História e Cultura Indígena e Afro-Brasileira, ela pode ser considerada uma exceção no país, tanto no papel de professora quanto de aluna.

De acordo com o Cedra (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais), uma instituição independente e apartidária criada por especialistas em ciências de dados e pensadores da questão racial, em escolas predominantemente negras, a quantidade de professores com formação adequada, ou seja, com Ensino Superior em Licenciatura (ou equivalente) na área da disciplina em que lecionam, é sempre menor. Na educação infantil, por exemplo, a diferença em relação a escolas predominantemente brancas é de 13,7%, enquanto no ensino superior a diferença chega a quase 30%.

Os dados divulgados pelo Cedra apontam um déficit não apenas na preparação dos professores para lidar com as questões raciais, mas também déficits básicos em escolas pertencentes a periferias e comunidades socialmente marginalizadas. Luana se diz privilegiada nesse sentido. Em sua formação, ela foi aluna bolsista em uma faculdade particular na região metropolitana do estado onde nasceu, o Espírito Santo.

“Sou graduada em pedagogia, e na grade curricular a disciplina de relações étnico-raciais era obrigatória na minha faculdade. Então, nessa disciplina eu me entendi enquanto mulher negra e tomei posse disso”, conta a Diretora/Presidenta do Instituto Das Pretas.

Novas educadoras do Brasil — a esperança de um futuro melhor

Anna Karoline Araújo, de 24 anos, é pedagoga em formação, no último período da faculdade, e agora mãe de Niara, sua filha que está a caminho. Karoline teve interesse pela área de pedagogia ainda na infância. Sua mãe sempre dizia que, desde pequena, ela amava brincar de “escolinha” e falava que seria professora quando crescesse.

“Ao chegar no ensino médio, tive muitas dúvidas sobre o que seguir, toda aquela pressão de ‘meu Deus, o que será do meu futuro?’. Assim que saí do ensino médio, passei pelo Prouni para o curso de bacharelado em Acupuntura, mas, como não fechou turma, tive que migrar para Fisioterapia. Fiz o curso até o 4° semestre, mas percebi que a pedagogia fazia mais sentido para mim”, conta a futura pedagoga.

A paixão de “tia Karol”, como é chamada pelos alunos da escola onde trabalha, é a educação infantil. Ela explica a motivação: “Na educação infantil, estamos lidando com crianças que estão aprendendo a viver socialmente, a compreender suas emoções, aprendendo a viver fora do ciclo familiar, entre outras questões complexas. O pedagogo é preparado para lidar além das demandas pedagógicas, compreendendo e orientando emocional e socialmente”, destaca a jovem.

Apesar da paixão, em entrevista ao Portal Black Fem, ela elucida que existem desafios na área. O maior desafio do profissional de pedagogia no Brasil, segundo Anna Karoline, “é a falta de teorias, embasamento e compreensão do sistema educacional no Brasil, e como lidar na prática com situações que necessitam de um recorte racial e social”. Para driblar essas questões, ela busca cada vez mais referências com recorte racial e social.

“O que me dá forças é saber que, através do meu trabalho, posso agregar na vida de uma criança, principalmente crianças negras, indígenas e periféricas. Tenho buscado ler e me inspirar em pedagogos, filósofos, escritores e criadores de conteúdo que abordam, além do racismo, a filosofia africana e indígena e a valorização da nossa cultura fora da visão eurocêntrica e ocidental. Bárbara Karine, Frantz Fanon, Bell Hooks, Sueli Carneiro e Silvio Almeida são algumas referências nessa busca pelo conhecimento”, conta a futura educadora.

Escola de Elisas — um projeto de futuros

Luana Loriano também é coordenadora pedagógica do projeto Escola de Elisas, que tem o objetivo de letrar racialmente o futuro de crianças por meio da literatura, escrita criativa, oralidade e artes. “Nessa última edição do Escola de Elisas, fomos ao encontro das crianças nas escolas e atendemos mais de mil crianças”, conta Luana. Além do trabalho direto com os pequenos, o projeto também atendeu os educadores, que passam mais tempo com as crianças nas escolas.

“Existe uma defasagem na formação dos educadores em alguns ambientes, não em todos. Existem secretarias que fazem trabalhos sensacionais, como aqui no Espírito Santo, mas infelizmente não é a realidade de todas as secretarias do país”, alerta a educadora. “A ideia da Escola de Elisas não é roubar o protagonismo das escolas, até porque não temos condições. Queremos potencializar o que já está nas escolas, mostrando que é possível uma escuta ativa dos alunos”, completa.

Com a Escola de Elisas, Luana conta que descobriu que muitas vezes os professores não conhecem os alunos da forma que pensam. A ideia do projeto é estimular que as crianças possam sempre pensar que podem ser o que quiserem, e que sonhar é possível.

“O exercício do sonho é algo que crianças brancas já exercem desde a gestação, exceto crianças brancas em ambientes periféricos”, sinaliza Loriano. “Quando se pensa no futuro de crianças negras, há uma ausência de projeção de futuros. Na gestação, é difícil para uma mãe negra e periférica pensar no futuro da criança que vai nascer, quando ela precisa pensar no futuro da criança que já nasceu”.

O projeto criado pelo Instituto Das Pretas lançou, em maio de 2024, uma cartilha de educação antirracista com apoio da NIVEA. O material disponível para download no site da instituição contém seis capítulos que tratam de diversos temas, incluindo a recuperação da história Afro-Brasileira, conceitos sobre racismo e injúria racial, instruções sobre como agir diante do racismo, além de recomendações de livros e filmes.

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