No maior festival de cultura negra do mundo, as roupas se tornam uma extensão da personalidade, comunicando histórias, lutas e ancestralidade
Colagem com @talyagabrielaa, @daisenaa, @zaisantoss — Fotos: Saulo de Tarso / Portal Black Fem
Pessoas do país inteiro vieram para Salvador, maior cidade negra fora da África, para vivenciar o AFROPUNK, nos dias 9 e 10 deste mês, no Parque de Exposições da cidade. Nesses dois dias de festa, cores, texturas e estampas coloriram o público, com suas roupas e cabelos, tornando o festival um espaço de música onde a estética e moda preta é evidenciada.
O festival, conhecido por sua atmosfera culturalmente rica e inclusiva, transforma seus espaços em passarelas, onde o público expressa orgulho e conexão com suas raízes. Seja com tecidos africanos, adornos de cabelo e roupas que estão relacionados aos seus gostos e personalidade, o público do AFROPUNK não brinca quando o assunto é se expressar.
Usando capuz, top e saia de crochê, Taiala Santos, estudante de 25 anos, veio de Candeias com seus amigos para a sua quarta edição do festival. Desta vez, contou com a ajuda de uma amiga que é estilista e, junto com ela, idealizou todo o estilo que estaria trazendo ao evento.
“Ela foi me dando ideias, a gente foi modificando para chegar no resultado. Quem fez o processo de bordagem do crochê foi a mãe da minha amiga, elas tem uma marca em conjunto. Então este ano fiquei completamente descansada, porque elas fizeram tudo”, conta.
Ela relata que levou duas horas para se preparar para o evento. “Com um pouco de estresse, acho que levei umas duas horas, porque maquiagem sempre estressa, a gente faz alguma coisa errada e precisa refazer. Mas no final deu tudo certo, valeu a pena cada segundo, porque a festa está maravilhosa e eu estou me sentindo maravilhosa também”, a estudante destaca.
Para muitos, o festival é um espaço em que é possível ser quem verdadeiramente é, através de autenticidade e mostrando ao mundo como quer ser visto. Quando a ancestralidade, criatividade e afirmação identitária se juntam, saem looks incríveis, como a roupa da estudante soteropolitana Rayssa Sena, 20, que não economizou no jeans. Ela conta que para aparecer bem na festa, precisou de muito jogo de cintura.
“A roupa que comprei na internet exclusivamente para o AFROPUNK não deu certo, ficou pequena, então tive que improvisar. Tive a ideia de vir com uma calça jeans, e o top jeans eu fiz a partir de uma calça minha antiga que tinha rasgado. Eu levei a calça para minha tia, que é costureira, ela viu umas referências na internet e a gente fez”, Rayssa narra. “Eu gostei mais dessa do que da outra que eu estava planejando antes”, acrescenta.
Onde quer que o público passasse no Parque de Exposições, os termos “SEM SEXISMO”, “SEM RACISMO”, “SEM CAPACITISMO”, “SEM HOMOFOBIA”, “SEM TRANSFOBIA” e “SEM ÓDIO” estavam presentes em cada parede, reforçando a ideia principal do evento: promover e incentivar a diversidade. E seguindo o proposto, as roupas misturaram elementos tradicionais, como estampas africanas e tecidos como o ankara, com toques estilos contemporâneos e locais, como a moda periférica.
@lunnamontty — Fotos: Saulo de Tarso / Portal Black Fem
Não ter medo de ser maximalista é o lema do público, que utilizou a moda como uma forma de desafiar os padrões eurocêntricos impostos pela sociedade, muitas vezes através do minimalismo e conceito “clean” — um ideal estético que privilegia minimalismo, neutralidade e simplicidade, muitas vezes associado a padrões de beleza brancos, apagando características culturais, cores vibrantes e expressões que fogem dessa normatividade.
E se opondo a isso, Lavínia Nunes dos Anjos, 22, optou por uma maquiagem mais escura e um vestido com várias camadas e babados, ainda apostou em acessórios para passar a ideia principal: mulheres negras são místicas. Através da roupa, ela estendeu traços da sua personalidade e gosto pessoal.
“Eu estava com a ideia de vir como fada, só que na realidade saí num conceito mais de bruxa. E é algo que gostei bastante, achei muito interessante o vestido com esse tanto de babado e bojo, ficou bem legal. A maquiagem eu também fiz. Eu tive esse ideia porque eu gosto muito de questões místicas, e eu queria algo nesse sentido, porque também tem espaço na comunidade negra”, enfatiza.
A expressão visual celebra a beleza negra em todas as suas formas e incentiva o público a reivindicar sua identidade com orgulho. E, com orgulho, mesmo que de última hora, Bia Florent, 19 decidiu ir ao AFROPUNK usando estampa africana.
“Eu recebi o convite ontem, então não tive muito tempo para pensar numa roupa. Eu pensei a estampa africana, que é uma representatividade a mais, para fazer parte da minha roupa. No cabelo, eu coloquei um aplique. Eu quis trazer minha pluralidade, eu sou várias numa só. Tem dias que estou num estilo e tem dias que estou em outro, e minha roupa expressa isso: a pluralidade da mulher negra”, celebra a si mesma.
Cores e estampas marcaram o festival — Fotos: Saulo de Tarso / Portal Black Fem
Além de se sentirem bonitas, as meninas e mulheres no AFROPUNK enxergam o evento como uma oportunidade também de movimentar e incentivar o empreendedorismo negro e local. Seja com roupas ou acessórios, tranças ou turbantes, tudo isso gera renda para profissionais negras, como a trancista Lara Meneses, 27, que esteve presente no evento.
“A estética negra no AFROPUNK envolve cabelo, envolve diversidade, envolve várias coisas. Cada vez mais nossas ideias estão conseguindo se materializar. E fico feliz em estar aqui, porque também faz parte do meu trabalho, meu dia a dia. Eu trabalho com beleza negra, então ter a oportunidade de ver muitos penteados diferentes e roupas tão lindas e criativas é muito gratificante”, observa.
O impacto dessa expressão visual vai além do festival. Inspirando tendências e estimulando reflexões, os diversos estilos vistos no AFROPUNK influenciam a moda urbana e reafirmam a importância da cultura negra na construção de novas narrativas.
Sobre o Afropunk
Reconhecido como o maior festival de cultura negra no mundo, o AFROPUNK é um movimento que celebra a cultura e a diversidade negra através da música, arte, moda e das conexões com a comunidade afro-diaspórica.
Realizado pela IDW, o AFROPUNK Brasil é apresentado pelo Banco do Brasil (BB), com patrocínio da Vivo, Heineken, Coca e Sprite. O evento traz o apoio de Salon Line, White Horse, Salvador Shopping e Kenner; e apoio institucional assinado pela Prefeitura de Salvador e a Embaixada Francesa; e o de mídia por Eletromidia e Toca UOL. Spotify é o player oficial; Gol + Smiles é a companhia aérea oficial.
Acompanhe nossas redes sociais:
#AJUDEOPORTALBLACKFEM: seja um doador recorrente em nossa Campanha de Financiamento do Catarse ( http://catarse.me/ajudeoportalblackfem)
Doação via PIX (CNPJ): 54738053000
As comunidades Black Fem são espaços seguros para discussões sobre os temas que estão relacionados com as editorias. Não quer ler um montão de textos, mas quer acompanhar tópicos de temas determinados? Conheça os grupos, escolha aqueles que você quer fazer parte e receba nossos conteúdos em primeira mão.
Clique para acessar nossa comunidadeNossa comunidade é um espaço para nossa audiência receber reforços de nossos conteúdos, conteúdos em primeira mão (I'sis Almeida, diretora jornalismo do Portal)
No geral, mesmo com as redes sociais as pessoas não se conectam, e é por isso que abrimos esse espaço de conversação. (Lavínia Oliveira, diretora de arte do Portal)