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Sócio-fundadora, diretora executiva e de jornalismo do Portal, I'sis é jornalista e bacharel interdisciplinar em artes formada pela Universidade Federal da Bahia, além de técnica em comunicação visual e pós graduanda em Direitos, Desigualdades e Governança Climática. É criadora e podcaster do Se Organiza, Bonita!
Foto: Mark-Zuckerberg por Anurag R Dubey/Wikimedia
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou na última terça-feira (7) que a empresa irá descontinuar o programa de verificação de fatos independente em suas plataformas Facebook e Instagram nos Estados Unidos. A prática, que até então era realizada por agências especializadas, será substituída por um sistema de “notas da comunidade”, um modelo que delega aos usuários a função de adicionar contexto a publicações suspeitas, semelhante à abordagem usada pelo X (antigo Twitter).
Até o momento, a verificação de fatos nas plataformas da Meta era conduzida por organizações independentes, escolhidas com base em critérios estabelecidos pela política de integridade da empresa. Essas organizações, compostas por jornalistas e especialistas, tinham como objetivo avaliar a veracidade de conteúdos compartilhados. Por meio de parcerias com entidades como Associated Press, PolitiFact e FactCheck.org, as agências analisavam publicações sinalizadas como possivelmente falsas ou imprecisas. Quando confirmado o problema, um “rótulo” de desinformação era aplicado, alertando os usuários sobre os riscos do conteúdo.
Esse modelo também incluía a redução do alcance de publicações falsas, limitando sua distribuição nos feeds, e, em casos mais graves, a remoção total do material. As informações verificadas eram reunidas em um “Centro de Informações” da plataforma, permitindo que os usuários acessassem dados confiáveis.
Apesar de amplamente considerado um esforço positivo no combate à desinformação, o programa também enfrentou críticas, principalmente em relação a um suposto viés político das agências. A decisão de implementar o sistema de “notas da comunidade” reflete uma tentativa da Meta de adotar um modelo mais descentralizado e com maior participação dos usuários.
As “notas da comunidade”, inspiradas na dinâmica do X, permitem que os próprios internautas colaborem para adicionar contexto a conteúdos potencialmente enganosos. Inicialmente, o sistema será implementado apenas nos Estados Unidos.
E os demais países?
A nota divulgada pela Meta não especifica se as mudanças anunciadas serão expandidas para outros países, como o Brasil. Embora o comunicado indique que o novo modelo será aplicado inicialmente nos EUA, não há detalhes sobre planos de expansão. Isso deixa em aberto a possibilidade de que mercados relevantes, como o brasileiro, sejam afetados no futuro.
Sendo o Brasil um dos principais mercados da Meta, é provável que qualquer alteração significativa nas políticas de moderação da empresa tenha impacto por aqui. Contudo, até o momento, não foram divulgadas informações concretas ou prazos sobre uma possível adoção do novo modelo em outros países.
Reações ao anúncio
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) manifestou preocupação com a decisão da Meta de não mais apoiar iniciativas de checagem de fatos conduzidas por profissionais. Segundo a organização, o trabalho das agências segue princípios estabelecidos pela International Fact-Checking Network (IFCN), com regras de transparência e imparcialidade. “É importante frisar que os profissionais desse segmento não retiram conteúdo do ar. Eles apontam erros factuais e informações enganosas que podem prejudicar o direito dos cidadãos de acessarem informações verificadas”, destacou a Abraji.
A Rede Europeia de Fact-Checking também criticou a decisão, classificando-a como politicamente motivada diante do contexto da nova administração de Donald Trump nos EUA. Clara Jiménez Cruz, presidente da organização, afirmou: “Condenamos veementemente as declarações do CEO da Meta que associam verificação de fatos à censura. Este parece ser mais um movimento guiado por interesses políticos do que por evidências”.
No Brasil, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) criticou a decisão por meio de uma publicação no X: “Na prática, o reposicionamento significa a liberalização total das plataformas para os objetivos da extrema-direita e de grupos criminosos, como a disseminação de informações falsas, propagação de violência e extremismo político, além de conteúdos de ódio e preconceituosos, sob a falsa retórica de defender a liberdade de expressão”. Curiosamente, o post do parlamentar foi acompanhado por uma “nota da comunidade”, exemplificando o sistema que inspira a Meta.
Impactos da decisão
O Portal Black Fem reuniu as opiniões de três das principais agências brasileiras de checagem de fatos sobre o tema:
Coalizão Direitos na Rede: Em manifesto, a coalizão, formada por mais de 75 entidades, alertou que a mudança coloca em risco grupos vulneráveis e enfraquece iniciativas globais de promoção de um ambiente digital seguro e inclusivo.m espaço digital mais seguro, inclusivo e democrático.
Agência Lupa: A agência destacou que o modelo de “notas da comunidade” tem se mostrado ineficiente. Segundo a Lupa, apenas 8% das notas em português no X chegam aos usuários, o que indica baixa efetividade no combate à desinformação.
Aos Fatos: A organização expressou preocupação de que a decisão da Meta enfraqueça os esforços de contenção da desinformação, considerados bem-sucedidos no modelo anterior.
Com as novas diretrizes, na quarta-feira (8), usuários da Meta puderam realizar associação de identidades LGBTQIA+ a doenças mentais. Erika Hilton, deputada federal eleita pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) pediu que a Organização das Nações Unidadas (ONU) investigue Meta e Zuckerberg por “ameaça” à população. A representação da deputada foi encaminhada ao professor e pesquisador Nicolas Levrat, relator especial da ONU para assuntos que afetam minorias.
“As mudanças de política por grandes corporações como a Meta continuam a colocar em risco as vidas de indivíduos LGBTQIA+”, diz o documento. “Ao afrouxar suas políticas internas, a Meta pode ser considerada cúmplice na disseminação de práticas que violam os direitos de grupos protegidos pela legislação brasileira”, continua. Hilton pede a abertura de uma investigação e que a ONU notifique Mark Zuckerberg para que o empresário apresente detalhes sobre a nova política de moderação de conteúdo.
Nota da redação: Esta matéria será atualizada conforme novos desdobramentos e informações sobre o tema forem divulgados. A equipe também aguarda posicionamento da ex-relatora da CPI das Fake News e também deputada federal Lídice da Mata , do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
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