“Faces Negras Importam”

Projeto de banco recria, por meio de IA, rostos de mulheres negras históricas

Reconstituição da imagem de Maria Felipa realizada por IA – Reprodução Banco do Brasil

A população negra no Brasil carrega até os dias atuais um estigma relacionado à falta de uma memória palatável de seu povo, ou seja, a escassez de registros históricos concretos, como fotografias e documentos que comprovem e resgatem suas trajetórias e contribuições ao longo da história. Essa lacuna na preservação da memória negra contribui para o apagamento de uma parte essencial da história nacional, dificultando a construção de uma identidade coletiva e a valorização plena da cultura afro-brasileira.

O projeto “Faces Negras Importam” nasceu de uma provocação: ao buscar em sites de pesquisa o nome de três figuras da história brasileira, todas são representadas pela mesma imagem, a foto “A Mulher Negra de Turbante”. Para resgatar o direito de registrar suas narrativas, atualizar os acervos de pesquisa e literaturas, e devolver as imagens dessas mulheres para a história, o projeto reúne pesquisadoras, estudos acadêmicos e recursos de Inteligência Artificial para recriar os rostos de Maria Felipa, Luíza Mahin e Tereza de Benguela.

As imagens foram criadas e dirigidas por Ilka Cyana, diretora e artista visual. Ilka utilizou uma combinação de ferramentas de IA e editores de imagem para desenvolver representações visuais únicas, contribuindo, com ainda mais vida, ao projeto com sua técnica apurada.

“O projeto Faces Negras Importam está conectado com o nosso propósito. Além de trazer atributos de brasilidade, o projeto reforça que a gente se importa e o papel que o Banco do Brasil tem em temas tão relevantes para a sociedade brasileira. Queremos transformar esse cenário, apoiando as pesquisadoras e seus estudos acadêmicos, para divulgar as faces dessas mulheres para todo o Brasil”, aponta Lidiane Orestes, gerente executiva de Direitos Humanos, Diversidade, Equidade e Inclusão do Banco do Brasil.

Confira as reconstituições:

Maria Felipa foi uma marisqueira e capoeirista. Tornou-se um ícone da luta pela independência da Bahia do domínio português. Liderando um grupo de mulheres, organizou estratégias de vigilância e sabotagem contra as tropas portuguesas que tentavam desembarcar na região. A sua atuação heroica culminou em dois momentos históricos: liderou um ataque no dia 1º de outubro de 1822, incendiando embarcações portuguesas, e na batalha de 7 de janeiro de 1823, a sua estratégia alcançou o ápice, derrotando os portugueses.

Reconstituição da imagem de Luiza Mahin realizada por IA – Reprodução Banco do Brasil

Luiza Mahin, por sua vez, é recordada pela sua participação ativa em diversos levantes de escravos na Bahia. A sua história é atestada por uma carta autobiográfica escrita pelo seu filho, o poeta Luiz Gama, em 1880. Nesta carta, Gama descreve a sua mãe como uma mulher “africana livre, da Costa Mina” que se envolveu em planos de insurreições de escravos.

Reconstituição da imagem de Tereza de Benguela realizada por IA – Reprodução Banco do Brasil

Tereza de Benguela, líder do Quilombo do Quariterê no século XVIII, demonstrou uma extraordinária capacidade de liderança e estratégia, governando o quilombo por mais de 20 anos. Tereza implementou um sistema de defesa eficaz, utilizando a sua habilidade no uso de ervas para fortalecer a comunidade, e promulgou leis e regulamentos que garantiam a ordem e a justiça dentro do quilombo. A sua liderança fortaleceu a rede étnica do extremo oeste do Brasil, promovendo a longevidade do quilombo e mobilizando a fé dos seus membros.

Sobre as pesquisadoras:

Aline Najara da Silva Gonçalves é uma mulher negra, brasileira, natural de Alagoinhas, Bahia. É doutora em História (UFRRJ), mestre em Estudos da Linguagem (UNEB) e especialista em História Afro-Brasileira (FAVIC). É autora dos livros “Luiza Mahin: Uma Rainha Africana no Brasil” (CEAP, 2011) e “Luiza Mahin: A Guerreira dos Malês” (CEAP, 2011), bem como da tese “É conter os negros: debates e narrativas sobre a questão do elemento servil no Império do Brasil, 1865-1908” (UFRRJ, 2022). Suas pesquisas estão centradas na história do processo de emancipação da mão de obra escravizada e do pós-abolição no Brasil. Atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado no Centro de Estudos Latino-Americanos (CLAS) da Universidade de Pittsburgh (EUA), no âmbito do Consórcio Universitário de Estudos Afro-Latino-Americanos.

Rejane Mira é mestre em Desenvolvimento Regional, especialista em Metodologia do Ensino Superior, turismóloga e já realizou diversos trabalhos de consultoria em turismo e interpretação do patrimônio em destinos da Bahia. Foi professora na FACTUR (Faculdade de Turismo da Bahia), Instituto Federal da Bahia (IFBA) e na Fundação Visconde de Cairu. É autora do livro “Turismo e Interpretação do Patrimônio: Uma abordagem comunitária” e sócia da Cria Rumo Consultoria. Consultora e instrutora do Sebrae nas áreas de turismo, cultura e economia criativa.

Silviane Ramos Lopes da Silva é uma mulher negra quilombola. Professora doutora da Seduc/Unemat – Gedifi/Fiocruz latinas. Pesquisadora pertencente à comunidade do Calvário de Vila Bela da Santíssima Trindade. Historiadora e socióloga, afroartivista e produtora cultural, escritora e presidente fundadora do Coletivo Herdeiras do Quariterê. Idealizadora do projeto Potências Negras Criativas, que alcança hoje 14 dos 26 estados do nosso país transformando a vida de pessoas negras. Mãe de Júlia Beatriz e Ian, filha de Maria das Dores, neta de Gregória Marques Ramos, bisneta de Teodora e tataraneta de Tereza! Marca, assim, a pertença da quinta geração de Tereza de Benguela.

Eny Kleyde Vasconcelos é mestra em Educação e pesquisadora de Maria Felipa.

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