Ilustração:
Leandra Gonls é artista visual e Ilustradora dos livros “Dandara - Uma Princesa Heroína” e “Espelho, Espelho Meu”. Ela é técnica em comunicação visual pelo Senai Bacharel em Designer Gráfico pela Unifacs e especialista em marketing e branding. Foi colaboradora da primeira fase do Portal Black Fem entre 2018 e 2020.
*Texto publicado originalmente em 2018, na edição especial do Portal Black Fem sobre o Kwaanza
Edição: Beatriz Pimentel – Supervisão: I’sis Almeida
Ilustração: Lea Gonls/Portal Black Fem – Todos Direitos Reservados – jamais reproduza sem os créditos
Ser uma pessoa preta, na diáspora, significa experienciar o mundo de uma forma única. Nós vivemos inúmeros desafios no dia a dia entre eles encontrar e cultivar o amor e o cuidado em nossas relações.
Essa dificuldade é criada no contexto da escravização, quando os nossos ancestrais, os povos negros da África, foram arrancados de suas famílias, comunidades e terras. Dessa forma, forçou-se um desligamento com princípios e valores que eram cultivados, como a união e o senso de comunidade.
A separação dos negros de sua cultura foi uma das principais estratégias adotadas no processo de escravização desses corpos, uma vez que os tornava mais vulneráveis à dominação ao promover uma intensa fragilidade emocional, espiritual e psicológica. Assim, foram condicionados a negar a auto-estima, perpetuar os relacionamentos tóxicos e a reproduzir a brutalidade usada contra os seus corpos e mentes.
O povo negro sobreviveu e resistiu a uma violência desumana secular fundamentada por uma ideologia racista que, até hoje, é propagada pela supremacia branca e solidificada pela mídia e pelas estruturas de poder na sociedade. Esse estado vulnerável no qual nos encontramos pode ser revertido apenas por nós, isto é, pela união das negras e dos negros.
Ainda podemos recuperar a essência dos nossos ancestrais. Precisamos nos auto organizar para nos curarmos de todo esse peso que depositaram em nossas costas, construindo novos rumos para o povo negro e formas de superação da estrutura racista enraizada na sociedade. Para isso, o caminho a ser seguido passa pelo relacionamento e pelo conhecimento.
Para quebrar o paradigma de pertencer a um não-lugar, necessitamos, para além do processo de auto organização, unir-nos em encontros, atos e celebrações que fortaleçam e resgatem os ensinamentos africanos. O Kwanzaa é uma festividade que podemos colocar em prática visando atingir tal objetivo. Essa festividade foi criada na década de 60 pelo professor pan-africanista da Universidade da Califórnia, Maulana Karenga. Trata-se de uma manifestação fundamentada em sete princípios
que busca enaltecer e reunir famílias e amigos para uma troca de
aprendizados, reflexões e experiências.
O Kwanzaa é uma festa de fim de ano que ocorre do dia 26 de dezembro ao dia 01 de janeiro. Em cada dia, comemora-se um ideal em meio a danças, músicas e histórias, sendo Umoja o primeiro princípio. Sua base é a família, a comunidade e a raça, valorizando esses elementos. O segundo é Kujichagulia referente à dedicação e à construção de nosso futuro e o terceiro, a Ujima, está relacionada ao trabalho coletivo e à responsabilidade. Celebra-se, também, a Ujamaa que propõe o desenvolvimento de atividades econômicas dentro da própria comunidade e a Nia, ligada à perpetuação de valores africanos a partir do coletivo. Por último, comemoram-se a Kuumba que destaca a importância da
criatividade e a Imani que ressalta a fé e ancestralidade.
Portanto, a festa serve como uma ferramenta para aprofundarmos nossas relações interpessoais, praticarmos o autocuidado em uma sociedade que nos adoece e, também, para nos reconectarmos com os ensinamentos criados por negras e negros. As suas reflexões abrem espaço para discutirmos nossas angústias, nossasdores e medos, trazendo, assim, conforto, ao reforçar a ideia de que não estamos sozinhos.
Nosso fortalecimento parte de nossa humanização que vem da união e do conhecimento. Assim, para além da transferência de ideais e sentimentos, a Kwanzaa é capaz de transformar e de ressignificar nossas vidas, pois as valoriza e as enche da sensação de pertencimento que, cotidianamente, nos é negada. Isso porque compartilhar as vivências com aqueles que entendem o que passamos tem um poder curativo e reconfortante. Dessa forma, nós, povo negro, através da união e força da coletividade, estaremos indo contra tudo que nos foi imposto de maneira violenta e dolorosa.
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