Texto:

Lívia Oliveira

Jornalista do Portal, Lívia Oliveira é comunicóloga formada em jornalismo e escritora soteropolitana, apaixonada pela comunicação. Autora do romance "Coração Gelado", acumula passagens no Jornal A Tarde, Criativos.

Ilustração:

Saulo de Tarso

Saulo de Tarso, fotógrafo freelancer/parceiro do Portal é especialista em retratos conceituais e fotografo há 4 anos. Busca explorar diferentes perspectivas, para seus registros mostrem a realidade de forma visualmente impactante.

Artistas femininas celebram potência no AFROPUNK 2024

No último dia do festival, além dos shows de Ebony e Lianne La Havas, Larissa Luz aproveitou o espaço para homenagear mulheres negras

Por: Lívia Oliveira/Edição e supervisão: I’sis Almeida

Larissa Luz no AFROPUNK 2024 — Foto: Saulo de Tarso / Portal Black Fem

No encerramento da quarta edição do festival AFROPUNK, no último domingo (10), o Parque de Exposições de Salvador se transformou em um espaço de potência feminina e também de emoção. Entre as apresentações marcantes estiveram  Larissa Luz e participação de EdCity, Lianne La Havas e a participação especial de Liniker, além da cantora carioca, Ebony.

Por volta das 20h10, a chuva começou a cair no Parque de Exposições de Salvador. No entanto, os pingos não fizeram ninguém arredar o pé. Quando Larissa Luz chegou falando para “tocar tambor e embrasar”, todo mundo correu para o palco Agô mesmo sob os chuviscos.

Entre as suas interpretações da noite está “Liberdade” de Edson Gomes, trazendo um pouco de reggae ao festival e provando sua diversidade de ritmos. Em sua apresentação, Larissa trouxe o cantor Edcity como convidado, e cantou junto a ele sucessos como “Tem que ser viola”, da época da banda Fantasmão.

Larissa também aproveitou o espaço para homenagear mulheres negras emblemáticas, como a escritora Carolina Maria de Jesus, a cantora, compositora, atriz e Ministra da Cultura, Margareth Menezes e a socióloga, ativista e política, Marielle Franco. A artista também reforçou a necessidade de justiça no caso da ativista, encerrando sua apresentação com um convite à ação e à memória. 

Show de Larissa Luz com Edcity — Foto: Saulo de Tarso / Portal Black Fem

O show de Larissa mostrou a potência, impacto e diversidade da cultura preta, indo além do entretenimento, inspirando e trazendo reflexões que honram tanto o passado quanto a construção de um futuro transformador, engajando e vibrando o público através da música.

“A apresentação foi perfeita. Valeu muito, mesmo que um pouco de chuva venha incomodar um pouco, eu não me importo. É uma energia muito boa, muito vibrante, e a Larissa é uma verdadeira luz, é tão diversa musicalmente e tenho certeza que conseguiu envolver todo mundo”, celebrou Daniele Ferreira, estudante de 19 anos.

No embalo da presença e resiliência de mulheres pretas brasileiras, a cantora Ebony, de 24 anos, também se apresentou no festival e trouxe não apenas sua arte ao palco, mas também um relato pessoal: a revelação de ter sido vítima de abuso sexual.  O show estava marcado para às 19h10, e logo no seu início a artista vinda de Queimados, na Baixada Fluminense, compartilhou com o público do AFROPUNK 2024 uma parte da sua vida, contando que foi fruto de um abuso sexual e que por parte da sua vida também foi vítima de abuso sexual, cometido por um tio de sua família adotiva desde criança até a adolescência.

A revelação chama atenção para os casos de violência sexual no Brasil. De acordo com o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, de  janeiro a maio deste ano foram registradas 11.692 denúncias relacionadas à violência sexual com crianças e adolescentes no Brasil.

“Eu sei que isso é muito pesado, e é mesmo. Isso afeta a gente de um jeito que ninguém nunca vai entender. Isso fez com que eu me sentisse sozinha, isolada, fez com que eu sentisse que ninguém ia me entender”, relatou Milena Pinto de Oliveira, conhecida artisticamente como Ebony.

Cantora Ebony no AFROPUNK 2024 — Foto: Saulo de Tarso / Portal Black Fem

Além de contar a sua história, a cantora ainda pediu um minuto de silêncio para as vítimas de abuso sexual, pedido que foi respeitado pelo público. Após a reflexão inicial, Ebony iniciou o show com as principais músicas da sua discografia, com a mensagem de que nada daquilo iria pará-la e que ela ainda cresceria mais ainda.

Sucessos como “100 Mili”, “24hs”, “Pensamentos Intrusivos” e “Paranóia” agitaram o festival, além da diss “Espero que Entendam”, para artistas Djonga, Filipe Ret, L7NNON e BK, reivindicando o espaço feminino no rap nacional. A artista que mistura rap, trap e R&B com uma sensibilidade que ressoa profundamente com seu público, é conhecida por transformar suas vivências em arte e uma das principais cantoras femininas de rap e trap sujo, que é um estilo que traz uma abordagem mais crua, intensa e agressiva nas letras.

Quem estava animada com a apresentação dela foi Yaomin Amorim, 23, modelo soteropolitana que foi ao AFROPUNK especialmente para assistir o show da carioca. “Desde o início estive com a expectativa muito alta. Vim principalmente para ver Ebony e Liniker. O Afropunk é um evento muito importante para estar reafirmando nossas raízes e por isso já tem uns anos que eu estava querendo vir. Esse ano foi meu primeiro e eu não poderia estar mais feliz”, relata. 

Apresentação de Lianne La Havas — Foto: Saulo de Tarso / Portal Black Fem

E nas atrações internacionais do dia, o público pôde conhecer e se encantar com a performance de Lianne La Havas, vinda do Reino Unido, com participação da cantora Liniker. Mesmo que tenha enfrentado alguns problemas técnicos no som, o que atrasou um pouco a apresentação, o público se reuniu em frente ao palco Gira para escutar suas melodias que transitam entre soul e folk. 

Músicas como “Green & Gold” fizeram parte do repertório da noite, assim como “No Room for Doubt”, que contou com a participação da cantora paulista Liniker, um dos feats mais aguardados da noite. 

A importância do festival para o público

A última atração do festival deste ano foi o cantor Silvano Salles. Mesmo que na madrugada de segunda-feira, Yaomin foi na intenção de ficar até o último segundo. Ela vê o festival como uma oportunidade de se conectar com suas raízes e por isso irá voltar nas próximas edições.

“Está todo mundo mostrando suas personalidades, sem preconceito, sem descriminação, mostrando sua cultura. E a parte estética também é importante aqui. O que eu mais acho incrível da estética negra é que a gente não tem medo de exagero, a gente não precisa estar o tempo todo nessa coisa clean, a gente gosta de cor, de brilho, de luzes, e aqui ninguém tem medo diso”, pontua. 

Já a chef de cozinha e nutricionista Leila Manhães, 25, veio do Rio de Janeiro para Salvador aproveitar as férias e ir ao Afropunk. Na sua segunda edição, trouxe a irmã gêmea para curtir o festival. Para ela, é muito importante o festival acontecer na cidade mais negra fora da África. 

“É me sentir pertencente, localizada, olhar para o lado e ter majoritariamente gente preta, gente se vestindo do jeito que gosta. Me sinto livre, saio da rotina, encontro tanta diversidade. Acho incrível existir um espaço como esse. É mágico”, destaca. 

O festival deste ano chegou ao fim, mas nas redes sociais, o Afropunk anunciou as datas da edição 2025: 8 e 9 de novembro. E já tem artista confirmado. A cantora e compositora britânica Jorja Smith foi a primeira artista confirmada para a quinta edição do evento no Brasil. 

Sobre o Afropunk

Reconhecido como o maior festival de cultura negra no mundo, o AFROPUNK é um movimento que celebra a cultura e a diversidade negra através da música, arte, moda e das conexões com a comunidade afro-diaspórica.

Realizado pela IDW, o AFROPUNK Brasil é apresentado pelo Banco do Brasil (BB), com patrocínio da Vivo, Heineken, Coca e Sprite. O evento traz o apoio de Salon Line, White Horse, Salvador Shopping e Kenner; e apoio institucional assinado pela Prefeitura de Salvador e a Embaixada Francesa; e o de mídia por Eletromidia e Toca UOL. Spotify é o player oficial; Gol + Smiles é a companhia aérea oficial.

Acompanhe nossas redes sociais:

#AJUDEOPORTALBLACKFEM: seja um doador recorrente em nossa Campanha de Financiamento do Catarse (:link: http://catarse.me/ajudeoportalblackfem)
Doação via PIX (CNPJ): 54738053000133

Faça parte da comunidade Black Fem

As comunidades Black Fem são espaços seguros para discussões sobre os temas que estão relacionados com as editorias. Não quer ler um montão de textos, mas quer acompanhar tópicos de temas determinados? Conheça os grupos, escolha aqueles que você quer fazer parte e receba nossos conteúdos em primeira mão.

Clique para acessar nossa comunidade

Nossa comunidade é um espaço para nossa audiência receber reforços de nossos conteúdos, conteúdos em primeira mão (I'sis Almeida, diretora jornalismo do Portal)

No geral, mesmo com as redes sociais as pessoas não se conectam, e é por isso que abrimos esse espaço de conversação. (Lavínia Oliveira, diretora de arte do Portal)

Black Fem TV

@portalblackfem

@portalblackfem