Justiça por Marielle e Anderson

Júri popular que pode sentenciar os assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes começou nesta quarta-feira (30). Entenda a importância de acompanhar os desdobramentos do caso.

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Hoje, seis anos após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018, foi iniciado o júri popular dos ex-policiais militares Ronnie Lessa, de 54 anos, e Élcio de Queiroz, de 51 anos, ambos réus confessos do crime. No início do dia, familiares e membros do Instituto Marielle Franco realizaram um ato em frente ao 4º Tribunal do Júri, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), para reforçar o pedido por justiça.

O processo está sendo conduzido por um corpo de jurados composto por sete homens. As primeiras horas do julgamento foram carregadas de indignação e emoção. Foram ouvidas as testemunhas Fernanda Chaves, assessora de Marielle e única sobrevivente ao ataque, e Marinete Franco, mãe da vereadora, além de outras testemunhas relevantes para o caso. “Estou aqui como uma mãe que sofreu e sofre. Aquilo foi uma barbárie, coisa que não se admite contra o filho de ninguém. Ninguém, a não ser que tenha passado pelo mesmo, pode avaliar a dor que estou sentindo”, disse emocionada a mãe de Marielle Franco ao júri.

A previsão é que a audiência siga até a madrugada, com depoimentos das nove testemunhas. Amanhã, Lessa e Queiroz devem ser ouvidos por videoconferência do presídio onde estão detidos, e, depois, a juíza Lúcia Glioche anunciará a sentença.

Mobilizações

Cidades em todo o Brasil estão promovendo atividades que buscam pressionar as autoridades a garantir que o crime de natureza política não fique impune. Em Salvador (BA), um ato foi organizado pelo Instituto Marielle Franco e a Casa Marielle Franco Brasil na Estação da Lapa, uma das mais movimentadas da cidade, às 7h, com o apoio de diversas organizações, como Anistia Internacional, Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Instituto Commbne, Mulheres Negras Decidem, Associação Protetora dos Desvalidos (antiga Sociedade Protetora dos Desvalidos), Instituto Odara, Rede Feminista de Saúde, Movimento Negro Unificado, Coletivo de Ação Lula Livre, Papo de Mulher, Rede de Mulheres Negras da Bahia, Movimento de Mulheres Olga Benario, Mulheres do PSOL e UBM.

Foto: Divulgação do ato em apoio ao caso Marielle e Anderson em Salvador

No ato ocorrido em Salvador, Lígia Margarida, presidenta da Associação Protetora dos Desvalidos, destacou o racismo como um processo histórico e devastador para a população negra que “nos põe à prova todos os dias”. Ela relembrou a Revolta dos Búzios, dos Malês e o caso de Marielle Franco como exemplos que representam a luta do povo negro por justiça e igualdade. Nas redes sociais, a gestora também alertou sobre a importância do engajamento social em torno da audiência.

Relembre a trajetória e o caso Marielle Franco

Marielle dedicou sua vida à defesa das comunidades marginalizadas do Rio de Janeiro e do Brasil. Foi eleita vereadora do Rio com 46,5 mil votos para o mandato de 2017-2020, durante a eleição municipal de 2016, obtendo a quinta maior votação. Grande parte dos votos veio da Zona Norte do Rio de Janeiro, cerca de 47% do total, seguidos pela Zona Sul (34%), Zona Oeste (18%) e Centro (1%).

Marielle e seu motorista, Anderson, foram mortos ao sair de um evento na Casa das Pretas, um espaço coletivo de mulheres negras na Lapa, no Centro do Rio. A parlamentar embarcou no carro junto com a assessora Fernanda Chaves. O veículo, dirigido por Anderson, foi emparelhado por um Cobalt prata e atingido por diversos disparos. 

O caso rapidamente ganhou destaque nacional e internacional, gerando protestos e mobilizações em várias cidades. A indignação pública refletiu a preocupação com a segurança de defensores de direitos humanos e a violência política no Brasil. As investigações revelaram que os réus confessos do crime, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, foram acusados de serem os executores, mas os mandantes do assassinato ainda não foram julgados.

Porque acompanhar o júri popular

A fala da diretora do Instituto Marielle Franco, Lígia Batista, em entrevista ao programa Bem Viver, do Brasil de Fato, elucida a importância do engajamento social no júri popular dos assassinos confessos. “Esse caso é simbólico,  sintomático de muitas maneiras. Nossa expectativa é, de fato, que esse momento do júri popular seja para que tenhamos finalmente uma resposta contundente sobre essa violência, e que o Estado brasileiro comece a se posicionar de forma intencional sobre a necessidade de responsabilizar aqueles que acreditam que a violência política é o caminho”, explica a advogada.

O engajamento, especialmente dos mais jovens, no caso de Marielle Franco é crucial por várias razões. Os jovens têm a oportunidade de se tornarem uma voz ativa na luta por justiça, não apenas para Marielle, mas para todos os que enfrentam violência política e social. Ao se envolverem e se posicionarem por justiça em casos como o da parlamentar, todos podem criar maior consciência política e social, entendendo a importância da defesa dos direitos humanos e da justiça em suas comunidades.

Em relatório publicado pela Anistia Internacional no ano de 2021, foi revelado que, entre 2015 e 2020, mais de 600 defensores de direitos humanos foram assassinados no Brasil. A maioria das vítimas eram líderes comunitários, ativistas de direitos humanos e ambientalistas. O relatório destaca que a violência contra defensores de direitos humanos aumentou principalmente em regiões com conflitos de terra,  como a Amazônia.

Onde assistir o júri:A audiência pode ser acompanhada ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto Marielle Franco e pelo canal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

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