Ilustração por Tainá Esquível
Nos últimos anos, nós homens e mulheres negras temos construindo novas formas de comunicação através da rede de computadores, dispositivos móveis e Internet, desenvolvendo maneiras de atingir o público que nas grandes mídias é invisibilizado. Revistas, canais no YouTube, são algumas das alternativas em disputa.
O objetivo de expandir a cultura afro e construir coletivamente em vários tipos de produções, traz benefícios intelectuais, financeiros e subjetivos, através da criatividade que impulsiona a comunidade negra. Tudo isso é o que prega parte da celebração que luta pela reconstrução da memória africana dentro do Kwanzaa: Nia, Ujamaa e Kuumba, três dos setes princípios da celebração.
Ainda que os movimentos sociais criem uma tensão e cobrem a presença de pessoas negras protagonizando produções na comunicação brasileira, a comunidade ainda vêm sendo deixada de lado, com presença reduzida e problemática até em roteiros construídos em Salvador, cidade mais negra fora de África. Vale salientar que comunicação é um fenômeno social no qual populações se expressam culturalmente, porém, os meios de comunicação hegemônicos produzem efeitos que restringem a autonomia de negros/as na formação de suas identidades.
Ao longo do processo de escravização, ferramentas de silenciamento foram desenvolvidas para evitar a auto-organização da nossa população. Conhecida como “máscara de Flandres”, um instrumento de violência construído com metal, punia os escravizados e escravizas que tentavam se alimentar ou dialogar. Sendo a boca o órgão responsável pela fala, fechá-la simbolizava a autoridade, demarcava a quem pertencia o poder da comunicação.
Após três séculos de escravidão e apenas 130 anos de uma falsa abolição, ainda vivenciamos uma enorme disputa por narrativas que reconheçam o povo negro. Isso significa que a máscara de Flandres ressurge em nossas experiências diárias. Esse instrumento continua se apresentando, atualizado e muitas vezes despercebido nas ações que desencorajam a existência de negros e negras enquanto pessoas ativas.
A ausência e a dificuldade de permanecer na universidade ou em outros ambientes que constroem conhecimento, por exemplo, mostra como pessoas negras são sempre retiradas do lugar de direito à comunicação.
Não é uma tarefa fácil promover outros caminhos, visto que a vulnerabilidade social é uma realidade para a população negra. Ainda assim, todas essas novas ideias cumprem o papel de pressionar e mudar o imaginário de que pessoas negras não são formadoras de opinião ou geradoras de protestos legítimos. É através da produção desses novos conteúdos, em inúmeras mídias, que criam-se tensões com grande potência política, social e cultural, tocando a comunidade negra em uma nova experiência que vem transformando a atuação e consolidando identidades.
Para Dai Costa, que escreve para o Blogueiras Negras, esse é um processo necessário porque precisamos de mídias e outras ferramentas que contem nossas histórias.
“As grandes mídias nos contam histórias brancas e hétero-centradas, por isso, nas nossas criações, as narrativas históricas e negras são fortalecidas junto a denúncia de um novo momento”.
A união como comunidade, família e raça dispensam padrões capitalistas que ocultam a nossa sabedoria. “Quando escrevo, penso nas pessoas que se reconhecerão no texto e recebo mensagens dizendo que a leitura mexeu com elas de alguma forma. Escrever o que vivenciamos sempre tem um pouco da nossa identidade, nossas dores”, afirma escritora. É por isso que tão frequentemente surgem novos canais no YouTube de meninas negras como esse portal e outros veículos que recordam e nos trazem conhecimentos não encontrados em modelos de comunicação tradicional.
Olá Andreza! Maravilhoso o seu texto… Um tesouro! Não sabia que encontraria tantas pérolas nele… Informações desta relevância devem ser sempre divulgadas com entusiasmo… Parabéns!